ELEMENTARES
Seu rosto aproximou-se do meu e eu não notei. Era como se
uma névoa pairasse ante meus olhos. Eu estava sendo hipnotizada por algo
sombrio e desconhecido.
Passei
meus braços por suas costas e puxei seu corpo para mais perto do meu. Ficamos
colados a partir desse momento.
Ele deixou
escapar um rizinho de excitação quando, decidida, eu colei nossos lábios.
Selando-nos em mais um em meio aos inúmeros beijos que são distribuídos todos
os dias mundo afora, seja nesse ou no outro.
Seu gosto
não era adocicado como o da maioria dos garotos. E ele não era desesperado
igual a eles. Seu beijo gozava de perfeita calma e tranquilidade. Pode-se dizer
que era experiente.
Um suspiro
de minha parte se fez ouvir quando ele apertou seu corpo ao meu. Ele deixou
escapar mais um risinho de excitação e fez menção de entrelaçar nossas línguas
com mais intensidade, acelerando o beijo.
Minha
mente já havia perdido o controle natural do fluxo de pensamentos. A única parte
sã dela gritava em alerta por nós estarmos quase caindo da mureta. Pena que meu
corpo não respondia mais ao cérebro. Eles haviam sido desconectados pelo desejo
natural do corpo.
Natural
nada! O desejo era inteiramente carnal. Algo desconhecido pulsava dentro de mim
perante o toque impetuoso do Allsin. Um sentimento novo e desesperado percorria
o meu corpo em busca de uma satisfação que apenas o rapaz à minha frente podia
lhe proporcionar.
Um desejo
animal e repleto de luxúria me preenchia. Era como veneno pulsando em minhas
veias.
Com as
mãos em seu peito eu o empurrei, fazendo com que nos separássemos. Ele me
encarou com um olhar que me questionava o que eu pretendia fazer. Ofegando e
entrecortando as palavras falei: - Allsin, - Seu nome saiu de minha boca com
certo calor, eu pensei poder ver a palavra dançar em volta dele, como se
brincasse comigo e com minha sanidade. Maluca! Eu só podia estar ficando
maluca. – nós vamos acabar caindo. – Meu tom de voz era de alarme, eu realmente
estava preocupada. Entretanto não era pelo motivo certo.
-Ora, não
seja por isso! – Ele exclamou, enquanto envolvia minha cintura com seus braços
e impulsionava o corpo para o lado, atirando o peso para o vão que nos separava
do chão e fazendo com que caíssemos na grama nenhum pouco convidativa.
Incrível,
mas não machucou como eu esperava.
Ele passou
as mãos pelo meu cabelo e, bruscamente, puxou minha cabeça para si. Esse menino
não perdia tempo! E depois, ele já deveria imaginar qual seria a minha reação.
Entreguei-me
inteiramente às suas caricias. Acho que até esqueci qual era o meu nome.
Naquele
momento não fazia a mínima diferença quem ou o que nós éramos. Apenas o nós
dois importava.
Só que,
como de costume, nada realmente acontecia conforme minha mente me informava.
Eu
acreditava estar sozinha. Mas não estava.
Eu
acreditei que o Allsin fosse um rapaz sério. No entanto julguei-o
precipitadamente.
E pior,
fui rude com meus amigos!
Com os
meus amigos? Nem eu acreditei quando me dei conta de que estava sendo enganada
por alguém que queria me ver longe de todos aqueles que sempre me protegeram e
me amaram.
Como eu
pude trair meus amigos? Eu não consigo entender o porquê de tanta tolice da
minha parte.
Bem,
melhor esquecer essa parte da história por enquanto, pois contar a surpresa
antes da hora acaba com a emoção.
Enfim, nós
estávamos tão entretidos com o beijo, (pelo menos eu estava!) que acabamos por
não notar os três corpos que, da varanda, estavam tentando nos observar.
Eles se
escondiam bem, fazendo com que fosse difícil vê-los. Sem contar que eu passava
a maior parte do tempo de olhos fechados e concentrada em algo mais importante,
julgava eu, que figuras curiosas. Porém não sentir a presença de espírito deles
era quase impossível. Somente um bom bloqueio psíquico me impediria de
notá-los.
Logo
constatei que os corpos eram a Ninaqua, a Kaitlin e o Deyth. Mas meu cérebro
não percebeu a importância deles naquele momento, então eu tratei de
esquecê-los, assim como esquecera de mim e dos meus sentimentos.
Contudo,
por obra do destino, não era apenas eles três a nos observar. Bem,
tecnicamente, ele não estava bisbilhotando.
Era cedo e
o dia prometia a presença de um sol estonteante. Então não seria surpresa
alguma encontrar pessoas caminhando pelo pátio naquela hora. A rota alternativa
até o refeitório costumava ser adotada em dias ensolarados.
Quando
senti um olhar pesar sobre mim foi como se parte de minha sanidade houvesse
retornado. Com isso separei-me subitamente do Allsin e busquei quem estaria me
encarando. Eu imaginei inúmeras possibilidades, mas nenhuma delas me preparou
para a expressão de nojo e repulsa que o Ethan lançava para mim enquanto
caminhava lentamente pela varanda.
Em
instante algum ele parou de andar, mas certamente ele havia diminuído o ritmo.
Assim que nossos olhares se encontraram ambos desviamos o rosto da direção do
outro.
Diante de
seu olhar austero senti-me suja e acabei por tentar me afastar do Allsin, que
ainda mantinha seus braços em minhas costas. Ele não recuou quando o empurrei,
não moveu nenhum músculo sequer, apesar de que, durante os treinamentos
corporais, fosse nítido que nossas forças eram equivalentes.
Eu me
perguntava se essa certeza não poderia se mais uma peça que o destino planejava
armar para cima de mim.
-Ei, -
Allsin começou a falar de forma suave, trazendo o meu olhar de volta a ele. –
você não precisa se preocupar com nada do que esse garoto pensa, Hay. – Seu
rosto transmitia doçura e bondade. Mais tarde eu o veria como um potencial
ator. – Você não precisa se preocupar com ele. Aliás, por que você não tenta
esquecê-lo? – Ele perguntou venenosamente. Em suas palavras o indicio de uma
trama complicada se fazia presente, mas eu não tinha a menor ideia do que ele
poderia estar tramando.
Allsin e
eu sempre fomos do mesmo nível de treinamento, o avançado. Assim como o Joseph,
a Terry, o Omek, o Ethan e as irmãs Chelliwater. Em resumo, todos aqueles que
já estudam aqui há um bom tempo. Então isso significava que o nosso nível de
conhecimento era o mesmo. Por isso, às vezes, eu sentia certa dificuldade ao
tentar ler sua mente, pois ele era páreo duro na arte da defesa mental e
acabava por dificultar o uso de minha habilidade especial, já que ela requeria
acesso à mente.
Com todos
aqueles do mesmo nível que eu a dificuldade em lê-los era sentida, mas ainda
assim eu tinha confiança de que, em breve, teria total controle sobre meu
poder. E, graças a isso, ninguém iria refrear meu avanço na mente de outros. É
claro que, independente do que eu fosse capaz de fazer, eu evitava ao máximo
entrar na cabeça das pessoas, pois me sentia culpada por invadir a privacidade
delas por qualquer besteira. Mas se fosse importante eu não teria alternativa
senão invadi - lá!
-Por que a
sugestão, Allsin? – Perguntei tentando esconder meus, provavelmente nítidos,
sentimentos com relação ao Ethan. Não conseguir entender-lo me afligia, então
eu resolvi descobrir o que ele pensava por meio de perguntas. Nada que um bom interrogatório
não resolvesse.
É claro
que meu esforço de omitir o que sentia havia sido em vão, pois, com um sorriso
bobo brincando em seu rosto, ele disse: - Hayley, você acha mesmo que eu nunca
notei o afeto que você tem por ele? Não só eu, mas todos a sua volta. –
‘’Tirando o próprio palerma em si. Que consegue ser lerdo o suficiente para não
perceber que tem uma menininha meiga caída a seus pés. ’’ Sua mente gritava
para mim. Parecia ser algo incontrolável nele. Acho que era raiva ou algo do
gênero. Emoções fortes, não importa quais fossem, costumavam atiçar o que eu
gosto de chamar de grito mental. ‘’Como ele consegue?! Só mesmo porque tem um
rostinho bonito e um sorriso cativante. Se não fosse por isso...’’ Seus
pensamentos eram frios e sarcásticos. Ele não parecia gostar muito do Ethan,
mas não era uma sensação recente, desde sempre os dois não se entendiam. Eu
esperava um dia descobrir o motivo.
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Bjs e eu prometo que volto!!
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