ELEMENTARES
-Ah, oi... – Falei sem graça.
-Sabe, você
não tem nenhum direito de falar assim com a Nina! – Ele disse furioso, vindo em
minha direção. – Geralmente a história é o contrário, Kaitlin. Não é só porque
ela ignorou sua ajuda, e fez isso por estar sensível, que você pode dar um
sermão nela.
-Mas eu...
– Tentei, em vão, me explicar, pois fui interrompida pelo Deyth.
-Primeiro
eu tenho que terminar! – Ele ordenou, apontando o dedo para meu rosto. – Quando
está tudo bem entre você e o Andrew, a senhorita ignora a todos. Mas quando
vocês brigam, você corre para nosso ombrinho e nós te esnobamos você reclama.
Certo? Pois é... agora que uma amiga sua, que sempre esteve ao seu lado, parece
triste, você não consegue ser minimamente compreensiva com ela e já sai logo
dando patada. Como assim?! Será possível que você não aprendeu nada com tudo o
que nós te falamos em outros momentos?! – Ele cuspia as palavras em mim, como
se tentasse se livrar de uma raiva que há muito tempo esteve resguardada.
-Chega de
discussão! – A Nina exclamou, se enfiando entre o Deyth e eu, que estávamos
frente a frente prestes a nos atracar. – Vocês não percebem que esse tipo de
atitude somente destrói a amizade de vocês? Até onde eu sei nós somos grandes
amigos.
-Eu só
estava tentando te ajudar, Ninaqua! – Deyth disse emburrado, cruzando seus
braços sobre o peito e fazendo uma careta engraçada. O que fez com que eu levantasse
o canto de meus lábios, formando um sorriso tímido.
-Eu
agradeço a sua ajuda, mas lembre-se que eu sei me defender sozinha. – Ela
respondeu abraçando-o – Ei, não fique emburrado, você sabe que eu te amo! –
Continuou depois que eles se soltaram, agora com sei típico sorriso bobo no
rosto.
-Hunf – Deyth
bufou, dando-se por vencido. – Eu bem que tentei, mas é impossível ter raiva de
você. Muito menos deixar de amá-la!
-Ai que
lindo, adoro reconciliações! – Falei piscando os olhos. Apesar de me sentir um
pouco excluída, eu não queria estragar a felicidade deles.
-Ninguém te
chamou para a conversa, Kaitlin! E quem disse que você está perdoada?
-Deyth! –
Nina exclamou, dando uma cotovelada nele e lançando um olhar repreensivo. – A
gente também te ama, Ka. Você sabe disso. – Ela falou em um tom cansado. – Só que o
Deyth é muito temperamental e tem dificuldade de se expressar devidamente. Mas
você já conhece a peça!
-É verdade,
- Revirei os olhos – até parece que eu não conheço vocês dois! – Joguei meus
braços por cima do ombro de cada um e comecei a arrastá-los em direção ao ponto
de encontro matinal de todos, o refeitório. Ou como o Deyth gosta de dizer:
salão de refeições. Ele fala que é mais bonito, por mim tanto faz.
-Nós vamos
comer na mesa com todos ou vocês preferem ao ar livre?
-E isso faz diferença?! –
Perguntou uma Nina bem mais feliz que a de poucos instantes atrás. – Contanto
que eu tenha a companhia de meus amigos – ela nos envolveu com os braços – não
tem porque me preocupar!
-Bom, - Dei uma pausa estratégica
só para dar um suspense. Quando os dois pararam e me encararam com um olhar
indagador, eu sorri e continuei – Restou você decidir Deyth! – Apontei o dedo
para ele, enquanto ele revirava os olhos com uma expressão de quem não via a mínima
graça no meu showzinho. A Ninaqua parecia se divertir tanto quanto eu com toda
a cena.
-Vocês duas não têm a menor
graça. – Ele falou intercalando olhadelas entre nós. – Mas como eu estou de bom
humor hoje, eu dou um desconto para vocês.
-Bom humor?! Nem parece! – A Nina
sussurrou para mim, me fazendo rir baixinho. O Deyth olhou para trás curioso,
mas como nós fingimos que nada estava acontecendo ele se voltou para frente.
O Deyth ia andando na frente,
pensando no que faríamos, enquanto nós duas ficamos um pouco para trás, nos
movendo devagar e apreciando a linda paisagem que o campus de nossa escola
oferecia.
Estávamos passando por um amplo
corredor que, em qualquer canto que se olhasse, era possível ver alguma peça de
decoração de épocas e estilos diferente. E, por mais estranho que possa
parecer, o conjunto da obra era lindo, tudo ali combinava perfeitamente. Como
se aqueles objetos tivessem sido feitos sob medida para estarem juntos, para se
completarem.
Entretanto nada se comparava com
o que estava por vir.
Do corredor fechado em que
andávamos antes nós viramos a esquerda em uma esquina que tinha uma armadura
enferrujada que parecia protegê-la, e fomos parar na varanda principal do
prédio, que dava para o portão de entrada do Campus (que tinha uma extensa
escada de mármore à sua frente). Essa varanda também levava ao corredor
principal do prédio, por onde todos entram sempre que vem para cá. Além disso,
ela também é a única parte da construção que circunda todo o prédio
ininterruptamente, pois fica no térreo.
Ao chegar na varanda a claridade
foi tanta que nós tivemos que parar e piscar os olhos diversas vezes até que
eles se adaptassem.
Depois que nos acostumamos,
olhamos para o céu e, ao ver como o dia estava belo, ficou claro para os três
onde nós iríamos tomar o café da manhã.
-Aqui parece perfeito para mim! –
Deyth falou triunfante. – O que vocês acham, madames?! – Perguntou com um
sorriso galanteador e, segurando nossas mãos, nos puxou para o gramado verde.
-Aprovado! – Exclamamos em
uníssono eu e a Nina.
Jogamos-nos no chão e, deitados,
ficamos mudos por um bom tempo, apenas absorvendo toda a energia positiva que a
mãe-natureza emanava. Principalmente o Deyth, que parecia extasiado com o
contato com o elemento com o qual tinha afinidade.
-Gente, eu sei que isto aqui está
ótimo, mas caso vocês tenham se esquecido nosso objetivo era comer, pois daqui
a pouco nós temos aula. – A Nina disse sentando-se e nos trazendo de volta a
realidade ao lembrar do que nos esperava pelo resto do dia.
-É verdade. – Suspirei tristonha.
– Já imaginava que esse momento mágico fosse chegar ao fim em alguma hora. Vem
Deyth! – Exclamei ao ver que só faltava ele se levantar agora que eu e a Nina
estávamos de pé.
-Nem pensar! Daqui eu não saio,
daqui ninguém me tira. Eu faço parte da terra, meninas, assim como... – Nós o
interrompemos, sabendo o que ele ia falar.
-Assim como ela faz parte de mim!
Conhecemos essa história...
-E eu estou farta desse
argumento! Vamos logo! – Como ele nem se mexeu, eu o segurei pelos braços e a
Nina as pernas e nós começamos a arrastá-lo até a comida.
-Meninas
me soltem! – Ele se debatia furiosamente e gritava.
Eu e a
Nina nos entreolhamos e, como se uma tivesse lido a mente da outra, nós o
soltamos ao mesmo tempo e ele caiu no chão. Mas ele não se machucou, a grama
amorteceu a queda. E depois, o Deyth tinha afinidade com a terra, então jamais
seria ferido por ela, a não ser que alguém quisesse. Como, por exemplo, em uma
luta.
-Acho que
vocês esqueceram a delicadeza na cama. – Ele reclamou espanando a poeira,
alguns grãos de terra e plantas da roupa e dos cabelos.
-Para de
reclamar, Deyth! Você nem chegou a se machucar. Não precisa ser tão ranzinza. –
A Nina falou enquanto ajeitava o cabelo que ficara bagunçado por causa do
vento.
-Não sei o
que fiz no passado, mas deve ter sido algo horrível para agora eu ser punido
tendo que aturar vocês. – O Deyth tornou a reclamar, soando como uma criança
mimada.
-Se for
para te ouvir reclamar o dia inteiro, eu prefiro ficar longe de... – Parei de
falar, pois a cena que vi quando encarei o Deyth me deixou totalmente surpresa.
Realmente, eu estava impressionada com o que estava acontecendo no gramado bem
embaixo do meu nariz. Abri a boca feito uma idiota e congelei.
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Beijão para todos!
Ah, tamo quase no cap. 4 *--*
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