ELEMENTARES
àPov. Allsin
-Não, não! Espera, ainda tenho
perguntas a fazer! – Gritei, estendendo, em vão, os braços em direção aquela
mística figura que aos poucos ia sumindo em meio a toda a luz que, de repente,
surgiu no vácuo escuro em quem nos encontrávamos e parecia consumi-la cada vez
mais rápido.
Acordei de meu sonho atordoado.
Percebi que ainda estava me remexendo, os braços estendidos para frente em
busca de algo invisível. A luminosidade do sol, vinda da janela, perturbava
meus olhos recém-abertos. Quem foi o idiota que largou a cortina aberta?! Já
sei de onde saiu àquela luz ofuscante de meu sonho. Um sonho muito bizarro pra
falar a verdade... O pior é que não me lembro muito bem dele, apenas do final e
da estranha mulher que tentava me falar algo importante.
-Allsin, cara, tudo bem?
Aconteceu algo grave para você estar tremendo? – Perguntou o Omek em tom
preocupado, entrando em meu campo de visão ao colocar sua cabeça para fora da
cama, que fica na parte de cima do beliche em que dormimos. – Foi mal se te
acordei, é que te ouvi gritar agora a pouco... você parecia assustado. – Ele
disse, apressado em se explicar ao notar o semblante de confusão, misturado com
surpresa, estampado em mim.
-Não, tudo bem, eu já estava
acordado. Po, cara, eu gritei?! – ele balançou a cabeça afirmativamente. –
Tenso!’-‘ Eu tive um pesadelo, só isso... atordoante, mas não foi nada demais!
-Para você gritar daquele jeito e
tremelicar todo, o sonho não foi nada demais de forma alguma! Eu te conheço
Allsin, vai fala o que houve. – Ele disse tentando ser compreensivo. Acontece
que eu nunca gostei dessas coisas melosas, é muito sentimentalismo pro meu
gosto. Sem falar que o Omek não me conhece, mesmo sendo meu amigo. Para todos
os efeitos eu sou um eterno mistério!
-Ih, sai pra lá Omek! – Exclamei,
levantando-me da cama – Se você quer carinho corre atrás da Lana que é sua
namorada e pode muito bem lhe dar isso. – Peguei meu inseparável sobretudo
preto, tirei a roupa de dormir, coloquei uma calça jeans surrada, uma camisa
preta qualquer e um tênis all star preto (dã) de caveiras. Por último joguei
por cima o sobretudo e sai do quarto, deixando para trás um Omek adormecido que
resolveu ficar quieto quando viu que eu não estava afim de conversar.
Resolvi caminhar e tomar um pouco
de ar, para ver se conseguia clarear meus pensamentos. Aquele estranho sonho
ainda rodava em minha mente, confundindo-me totalmente. Eu não queria
acreditar, mas algo nele me incitava a crer que havia alguma mensagem a ser
transpassada por aquela entidade mística brilhante.
Caminhava lentamente e observando
tudo a minha volta. Não estava com a mínima pressa, aquele momento era só meu.
As paredes em estilo arcaico com intrincados desenhos em relevo na suas colunas
de madeira pareciam esta se fechando ao meu redor, aquilo estava começando a me
sufocar. Realmente, eu precisava de ar fresco!
Deixei minha calma de lado e
comecei a me mover mais rapidamente em direção aos jardins. O dia mal havia
começado e eu já estava atordoado, louco para que ele terminasse logo e eu
pudesse voltar para minha cama, na esperança de que os acontecimentos da noite
anterior pudessem ser suprimidos pelos do dia que virá.
Ao chegar ao jardim eu,
incrivelmente, estava ofegando, o que indica que realmente eu estava um pouco
alterado, pois nunca havia precisado correr para chegar até aqui fora. Parei um
pouco e resolvi inspirar o ar puro da natureza pra ver se refrescava a cabeça.
Não sei porque, mas sempre
admirei os trabalhos da natureza. Não só da parte do ar, que é o meu elemento,
mas dos outros elementos também, principalmente a água.
Eu estava olhando para o céu e
observando o sol, quando, ao voltar meu olhar para baixo, vi algo se mover do
outro lado do pátio. Como não pude identificar quem ou o que era, resolvi me
esgueirar até bem próximo de tal figura enigmática. Ao chegar mais perto pude
notar que se tratava de uma garota ruiva, que eu imaginei ser a Hayley, pois
não tem nenhuma outra ruiva que me venha à cabeça e que more aqui.
Ela não me viu chegando, é claro,
eu sei ser bem discreto quando quero. Aproximei-me de mansinho por trás dela
e... não fiz nada demais está bem! Apenas chamei-lhe o nome suavemente – Terra
chamando Hayley O’Neil! – Ela parou, estática, e logo depois se virou, rápida e
curiosa.
-Am... – Ela resmungou – Ah! Oi
Allsin! Não percebi você chegando.
-Esse era meu objetivo, chegar de
mansinho. Vai que eu conseguisse ver algo interessante! S2 – Falei malicioso,
enquanto sentava-me ao lado dela, tornando a observar o sol. – Sabe, é uma
ótima sensação observar o nascer do sol. A natureza é muito bela!
-Eu estava pensando nisso antes
de você chegar. – Ela disse pensativa, enquanto eu tentava segurar sua mão. Que
foi? A esperança é a última que morre! – Ih, nem vem Allsin! Quantas vezes
tenho que te falar não? – Ela exclamou, sorrindo e recuperando um pouco de sua
felicidade, que tem estado perdida nos últimos dias.
-Quanto mais você me nega, mais
eu gamo!- Respondi fazendo aquele típico biquinho que seduz todas.^^
-Já te falaram que você fica
muito fofo com essa cara?! – Ela perguntou rindo de mim e fazendo um biquinho
também, bem... tentando fazer um.
-Sabe... pior que não! –
Exclamei, aproximando-me dela na mureta. As mulheres me confundem. Eu não sei
se ela está sendo legal comigo porque está mais sensível do que de costume, ou
se tem pena de mim, ou... sei lá! Vai que ela simpatiza comigo.*-*
Foi então que eu me dei conta do
porque da Hay estar sozinha no pátio a essa hora da manhã. Ela veio com a mesma
intenção que eu, tomar um pouco de ar fresco e tentar clarear os pensamentos.
No entanto imaginei que ela não estava aqui porque teve um sonho igual ao meu,
comecei a me indagar o motivo de sua fuga matutina. Tão logo comecei, pude
compreender o que se passava, ela estava aqui pelo mesmo motivo de ontem ter
chorado tanto e por ter desmaiado também.
Por isso que, sério, eu resolvi
lhe perguntar o que estava acontecendo. – Hayley, posso saber por que você
fugiu de todos aqueles que tentaram te ajudar quando você mais precisava? – Eu
perguntei, segurando suas mãos com força e enlaçando minhas pernas em sua
cintura para que ela não tivesse como fugir.
-Allsin, como você sabia que eu
precisava de ajuda?! – Ela perguntou um pouco chocada com o meu conhecimento
sobre tal assunto. Será que essa menina não lembra que eu estava em meio aos
amigos dela no grupinho?! To começando a me sentir insignificante. Tudo bem que
eu só apareci no final de toda a confusão, mas noticia igual a essa se espalha
num piscar de olhos. Ainda mais quando certos poderes servem como uma arma de
comunicação em massa. – Você estava lá no dormitório quando apareci chorando. –
Ela afirmou, logo após pensar um pouco sobre os acontecimentos do dia anterior,
e acabou por me impedindo de falar... Só porque eu ia reclamar com ela ¬¬’
-Que bom que você se lembrou Hay.
Achei que não tinha me notado... D: - Reclamei com um semblante triste.
-Você?! Difícil não notar. Chama
muita atenção, sabe... muito espalhafatoso. – Ela disse rindo e me abraçando
com ternura, como se pedisse desculpas. Agora me confundi mais ainda...Quando
eu dou em cima ninguém me dá atenção! E agora isso... Uma moça está sendo
carinhosa comigo só porque estou na minha. Só pode ser um sinal indicando que
devo mudar de estilo e...
Ah, quer saber?! Vou continuar
sendo arroz que é muito mais divertido! xD
-Como se a senhorita também não
fosse! – Retruquei – Ainda mais com esses cabelos cor de fogo.
-Ah, e você com...esquece! – Ela
até tentou contra-argumentar, mas não teve sucesso. Deve ter sido meu charme! –
Você é muito estranho Allsin! As vezes chama atenção demais, em outros momentos
sua presença passa despercebida. Um incógnita, mas é um mistério que pretendo
desvendar. – Ela disse em tom maroto, com o rosto virado para o pátio, mas
ainda assim observando-me de soslaio.
-Seu eu fosse você não me daria
ao trabalho... – Comentei, fechando os olhos e sentindo o sol nascente
esquentar minha pele.
Não sei porque certas pessoas
insistem em descobrir o passado de outras. Ora, se eu não conto é porque não
quero que ninguém conheça a minha história, certo? Mas, pensando bem, até que
pode ser divertido ludibriar a ruivinha e ver até onde ela chega. Só por mera
curiosidade.
Depois desse pensamento retomei a
conversa e voltei a falar.
-Talvez você se assuste com meus
mais obscuros segredos. – Disse, desta vez olhando em seus olhos e com os
lábios levantados em meu mais belo sorriso de escárnio.
-Isso é um desafio?! Não tem
problema o que posso descobrir, já estou acostumada com detalhes sórdidos. O
passado não me surpreende mais! – Ela exclamou, transpassando confiança ao
olhar diretamente em meus olhos, como se buscasse descobrir algo escondido
neles.
Geralmente eu não costumo brincar
assim e vou direto ao meu objetivo... Mentira! Eu adoro brincar com a comida.
(6’ Enfim, se ela quer um desafio, então ela o terá. Resta saber se a ruivinha
é forte o suficiente para me agüentar. De qualquer forma, que a diversão comece!
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